No tempo em que ainda não havia psicólogos

Em busca da unificação da saúde mental e física.

Quando estive na China em 2003, recorrer ao serviço de um psicólogo estava começando a surgir como uma necessidade para os chineses.

Apesar de terem mantido a unidade do corpo e da mente como algo assumido durante milhares de anos, os chineses começavam agora a procurar alternativas para questões diagnosticadas como sendo do foro mental, tais como a ansiedade, a depressão, o cansaço intelectual ou a recuperação de burnouts.

No entanto, é transversal na minha observação que o surgimento das patologias mentais está relacionado com a negação ou a incapacidade de tomar contacto e integrar o corpo com a mente.

A saúde mental está diretamente relacionada com a saúde física.

Ambos integrados numa visão de uma vida maioritariamente sem separações, integrada num ecossistema total onde tudo comunica, em vez de uma visão de separação de caixas e fronteiras.

• A caixa do trabalho
• A caixa dos amigos
• A caixa da família
• A caixa das férias
• A minha caixa
• A caixa dos outros
• …

Quando assumimos esta plenitude, de que não existem fronteiras, existem três aspectos que temos de aprender a lidar, a todo o momento:

1. Tudo muda, e é a adaptação constante a esta mudança que nos é pedida, pela diversidade da vida, que se torna essencial para sobrevivermos de forma sã.
2. Tudo aquilo que nos encanta e nos nutre não dura para sempre. Viver constantemente neste estado de procura no exterior dos estímulos que nos vão deixar felizes, tal como as situações que nos criam desafios, acaba também por nos exaurir.
3. Tudo aquilo que é mais desafiante. Se esperamos o tempo suficiente e com os recursos adequados para navegar o que nos limita, vai de alguma forma cessar ou transformar-se.

Que recursos são esses?

Há milhares de anos que a humanidade se depara com estas questões e tem criado tecnologias que permitem esta unificação do corpo com a mente, mas também destes elementos com a natureza que os cerca, sejam ecossistemas relacionais e humanos, sejam ecossistemas naturais.

• A Meditação ou o Chi Kung ajudam a criar esta unificação.
• A alimentação ajuda-nos a entender a impermanência das estações do dia, do ano e da vida.
• O nosso ecossistema comunitário é o laboratório onde testamos se o que criamos funciona ou é apenas uma ilusão mental fabricada por nós mesmos.

Na prática observa-se: quando os monges atingem estados de meditação profundos, devem ter uma interação regular e diária com a comunidade.

Na prática observa-se que mesmo em sociedades industrializadas e mesmo trabalhando ativamente e intensamente, o benefício de integrar o Chi Kung ou a Meditação no dia a dia são incalculáveis.

Quando Jon Kabat-Zinn, o pai do Mindfulness no ocidente, afirma que “Meditar todos os dias nos pode salvar a vida”, não está de todo longe da verdade.

Não quer dizer que vamos morrer nesse dia se não meditarmos, mas a vida como processo de escuta e de decisões pode ser construída no sentido de mais nutrição, ou de algo que criamos e que deixa de ser vida, tornando-se um processo de morte prematura, em que se morre aos 30 mas só se é enterrado aos 80.

Pessoalmente, imagino-me nesse papel. Se não tivesse descoberto o Chi Kung e a Alimentação aos 28 anos, provavelmente hoje minha vida seria bastante diferente da que tenho agora.

Criar uma prática para a vida é sem qualquer dúvida o projeto que pode salvá-la.

Por onde começar quando queremos trazer esta integridade aos nossos dias

Primeiro, passa por reconhecer que necessita parar. Quais os sinais que no seu corpo/mente indicam esta necessidade?

Depois, tomar a decisão de iniciar com uma prática que permita começar onde está.

• O Chi Kung possui essa capacidade. Havendo consciência e respiração, podemos sempre começar onde estamos. Esta prática unifica corpo, respiração e mente. Por exemplo: de pé em postura natural com os braços ao longo do corpo contar nove respirações conscientes.
• Alinhar-se com as estações do ano. Alinhando o seu ciclo de sono e escolhendo alimentos sazonais. Olhe para a sua fruteira e observe o que está fora de época ou que não pertence ao nosso clima.
• Dê prioridade ao contacto pessoal. Como seria a vida sem emails ou redes sociais? Apenas com telefone ou a sua capacidade de se deslocar para conectar com alguém que lhe traz nutrição.

Nutra-se desses fatores diariamente e poderá descobrir como era antes de haver psicólogos.

Boas práticas.